segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O adiantado da hora

 

Vivemos na era da pressa; da velocidade. Tudo tem que ser rápido e a urgência de nossas inúmeras tarefas nos impedem de parar para pensar: Pra onde vamos? Por que vivemos nesse ritmo acelerado?

Chico Buarque, compositor e poeta da nossa melhor música, já traduzia com incrível lucidez, anos atrás, o momento em que vivemos hoje:

 

Tem dias que a gente se sente

Como quem partiu ou morreu

A gente estancou de repente

Ou foi o mundo então que cresceu...

 

E segue, o poeta, decifrando o viver atormentado do homem moderno, preso à Roda Viva:

 

A gente quer ter voz ativa

No nosso destino mandar

Mas eis que chega roda viva

E carrega o destino pra lá...

 

Presos na roda viva da existência, esquecemo-nos de como era mais simples o nosso viver. O sucesso profissional não era uma cobrança onipresente e sufocante; fama e dinheiro eram conseqüências naturais da dedicação ao trabalho; conversávamos com nossos amigos ao vivo e em cores, desfrutando o prazer de agradáveis bate-papos noite adentro; telefone celular e internet eram coisas muito distantes, porém, havia mais proximidade entre as pessoas. As famílias sentavam-se à noite na calçada para conversar e o nosso espírito ficava leve ao contato diário com nossos familiares e vizinhos. Dormia-se bem e acordava-se melhor ainda.

Mas a pressa varreu nossos hábitos simples. Muita vez, trocamos o almoço em casa com a família por uma refeição fast-food; não temos tempo para ver nossos filhos crescerem e eles não sabem o que é ter uma conversa com os pais. Não lembramos da última vez que assistimos, tranqüilos, ao espetáculo diário do pôr-do-sol; não nos detemos para observar o orvalho matinal sobre as plantas; não miramos as estrelas em noites claras; não visitamos nem fomos visitados pelas pessoas que estimamos. Estamos sempre apressados sem se dar conta de que o que conta mesmo é a qualidade de vida.

Fomos aceitos na Maçonaria porque nos apresentaram como homens livres e de bons costumes. Livres-pensadores nos tornamos e desejamos compartilhar nossas idéias com os IIr.˙. durante a sessão semanal. Na condição de maçom, dotado de bons costumes, não podemos esquecer que saber ouvir com atenção e paciência é uma qualidade que denota educação e cordialidade.

Dentro do templo, em sessão aberta, vivenciamos um tempo diferente que não está sujeito à passagem ordinária. Portanto, não procede a argumentação que impede a manifestação dos IIr.˙. , durante a palavra a bem da ordem em geral e do quadro em particular, sob a alegação do adiantado da hora. Ao sair de casa para assistir à sessão, devemos nos preparar espiritualmente e estar dispostos não somente a assistir mas, também, participar da sessão. Não precisamos nos impacientar, consultando o relógio a todo instante, irritando-nos, às vezes, quando os IIr.˙. se manifestam. Pratiquemos a Liberdade.

Entretanto, os IIr.˙. que fazem uso da palavra devem ter uma fala que prime pela objetividade, clareza e concisão. Deve tratar de temas realmente relevantes para a Ordem e ser breve, dando tempo a que outros se manifestem. Discursos longos e repetitivos tornam-se enfadonhos, cansando qualquer pessoa, mesmo as de boa-vontade. O Ir.˙. deve ter em mente que outros precisam de espaço para se manifestar. Pratiquemos a Igualdade.

A sessão maçônica pode ser frutífera e proveitosa para todos. Basta, para tanto, que os IIr.˙. estejam imbuídos da necessidade de vibrar numa mesma sintonia de paz, de serenidade e de equilíbrio. O precioso tempo deve ser aproveitado com inteligência e bom senso. Nem se alongar demais, nem suprimir momentos que constam no ritual, como a palavra a bem da ordem e o tempo de estudo, para que a sessão termine mais cedo, pelo adiantado da hora. A sabedoria dos antigos nos ensina a trilhar o caminho do meio. A reunião é um meio para que exercitemos a verdadeira união. Pratiquemos a Fraternidade.

Deixemos, portanto, meus IIr.˙. que o Cântico das Subidas faça realmente sentido em nossas vidas.

 

Vede como é bom, como é agradável

Habitar todos juntos, como irmãos.

É como o óleo fino sobre a cabeça,

Descendo pela barba,

A barba de Aarão, descendo

Sobre a gola de suas vestes.

É como o orvalho do Hermon, descendo,

Sobre os montes de Sião;

Porque aí manda Iahweh a bênção,

A vida para sempre.[1]

 

 

Paulo Moura .˙. M .˙. M .˙.

 

 



[1] A Bíblia de Jerusalém. Salmo 133 (132), A vida fraterna. 3ª impressão. 1987. Edições Paulinas. São Paulo. Pp. 1098-1099.

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