quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Artigo do dia

O primeiro passo

 

Vedes, estes homens em Loja, de semblante triste, feições cansadas e um olhar baço carregado de comiseração que lançam sobre nós, iniciantes nos Sagrados Mistérios. São homens curtidos no tempo, calejados nas histórias vividas, cismados em suas indagações íntimas sem, contudo, obterem respostas satisfatórias. A Ordem a qual pertencemos nós, iniciantes, e eles, desapontados buscadores da Verdade, deixou muitas lacunas entre o real e o imaginário. Os vãos que a Ordem continha foram preenchidos com suas próprias criações mentais, devaneios e utopias. Criou-se, daí, uma construção disforme, argamassada com idéias fantasiosas; tão frágil, essa construção, que o leve sopro da razão poria abaixo a sua pretensão a fortaleza inexpugnável.

Para estes homens tristes, o tempo havia dissipado a esperança de conhecer o decantado Segredo e não havia como retroceder para tentar de uma maneira diferente. Samsara não pára. Agora, seria apenas cumprir com formalidade o papel que lhes cabia nos encontros semanais. O desapontamento fez-se superior às suas próprias forças e nenhuma motivação seria suficiente para tirá-los da letargia em que se encontravam.

Então, é isso?! Recuso-me a crer no engodo proposital, na mistificação plantada e adubada em nossa alma sequiosa da Verdade. Tem que existir algo além das aparências que desmascare o simulacro da realidade. Todavia, a vontade de conhecer se apodera de mim como um fogo, abrasando o meu íntimo e constitui-se no combustível que move meus três passos.

Pedirei para adentrar o misterioso templo; baterei com firmeza, pois sei de onde vim e para onde vou; buscarei com simplicidade a verdade que se oculta aos olhos profanos. Ao entrar, seguirei com passos retos e firmes em direção à Luz que tanto anseio. Há de me acompanhar a determinação e a vontade firme, auxiliando a obra da minha inteligência. Há de me acompanhar, sobretudo, o esforço para a mudança que deve se operar em meu espírito tornando-me merecedor de adentrar outros círculos, profundos e sabiamente invisíveis.

Vejo-me e não me reconheço como tal. Os olhos ainda estão obnubilados para que eu possa, pouco a pouco, ir me acostumando à intensa claridade. É meio-dia. Não faço sombra a ninguém e ninguém me faz sombra. Estamos nivelados pela luz no seu zênite e não há distinção, nem jóias, nem cargos, nem o vil metal que alimenta a ilusão de ter e ser.

Oriento-me com segurança.

Agora vejo, entre os rostos cansados, fácies radiantes, sorrisos de bondosa compreensão e olhos que nos velam com ternura e esperança. O tempo também passou para estes Iniciados — favorecendo-os — mas eles souberam aproveitar cada signo, cada significado e fazê-los significantes em suas vidas.

Reconheço-os como tal.

Entretanto, se me faltarem forças e tudo o que move meu desiderato, restará apenas juntar-me aos homens de semblante triste, feições cansadas, com esse estranho olhar de comiseração por mim mesmo, que sequer passei do átrio. Que não dei nenhum passo a caminho da Luz.

 

 

 

Teresina, 01 de outubro de 2008

Paulo Moura .˙.

M.˙. M.˙. – Caridade II

GEM Abdias Neves

 

 

2 comentários:

Unknown disse...

Meu Ir., este texto é maravilhoso. Quiçá os olhos cansados dispusessem de tempo para lê-lo, e as mentes embaçadas pudessem decifrá-lo. Paz profunda. Fraternalmente, Eduardo.·.

Castelo Branco,Fco. disse...

Meu caro Ir.: Paulo, meus parabens!!! Que o G.:A.:D.:U.: permita que esse projeto permaneça grandioso.